Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

sábado, dezembro 17, 2005

deixa como está

as minhas mãos são muito pequeninas, pequenos segmentos saíndo dos punhos da camisa enquanto a noite já se foi pelo sol que entra na janela. o corpo, estendo-o sobre o sofá e penso medir o tempo, a atenção a diluir-se pela música que vai enchendo a sala sempre tão vazia. talvez por estar o tempo todo a queixar-me, agora prefiro ficar calado.

as minhas mãos são muito pequeninas, já te tinha dito ou estou a repetir-me, a minha cabeça cansada sobre a almofadas, duas ou três palavras penduradas do tecto. o sol, o sol na janela, saber que demoro um quanto tempo a aquecer, olhar para o espaço em branco à espera de ser preenchido, essas coisas. se eu deixasse uma folha sobre a mesa, alguém a levaria?

as minhas mãos são muito pequeninas, eu cofio as barbas e páro a olhar para os dois parágrafos acabados de escrever. as minhas mãos sobre o teclado, esta música, um piano, poderia ser eu. tento mas não consigo pensar sem palavras, o sol, a janela, o corpo, as mãos. sim, começou por aí, pelas mãos. estendidas sobre a mesa, pequenos segmentos, punhos de camisa, assim, assim, assim.

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