Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

sexta-feira, dezembro 09, 2005

como o caranguejo

não quero nada contigo, disse-me ele, precisamente na altura em que eu entrava pela porta, de sorriso de bom-dia na cara, ainda tão cedo que nada tinha dito, não quero nada contigo, assim, para começar, nem me dando disposição para brincar com o mau humor dele, nem dando hipótese de fugir para não molhar os pés na rebentação, não quero nada contigo, pois, mas também não temos que perceber tudo.

a porta fechada outra vez, ainda é cedo, mas ele costuma sempre estar por cá, eu à procura das chaves no bolso do casaco, um enorme molho de chaves, quando cá cheguei esperava sempre à porta, ou o sol a bater forte na testa ou dias de tanta chuva, quando cá cheguei esperava, depois a chave do armazém, a chave do escritório, a chave da rua, a chave da arrecadação, a chave do cofre, as chaves de todos os sistemas de alarme e segurança, um enorme molho, eu à procura.

ontem à noite encontrei a filha do chefe, saí com o meu primo a um bar e lá estava ela, conheci-a pela cor dos cabelos, um fogo que lhe arde como auréola, encontrei-a e ela também me encontrou, lembrava-se da minha cara, podia ter desviado o olhar mas veio até mim, disse-me olá e ficamos a conversar, encontrei-a, é uma rapariga simpática, um tanto estranha ainda assim, diz coisas que não se percebem muito bem, sei lá, anda a ler o Ruben A. e disse-me que deve ser por causa disso.

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