Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

quinta-feira, novembro 03, 2005

oração

olha o que eu tenho no bolso. vês? sim, é para ti. trago-te um presente a cada encontro. falo devagar, muito devagar, para que possas saborear na minha língua cada uma das palavras. vamos ficar a morar por estes lados. esta é a nossa cama, estes são os nossos lençóis. a minha mão sobe lentamente pelo teu flanco, inquieta-te a barriga, sobre o umbigo, procura-te do lado de lado de ti. sonho com esta ilha - onde em todos os lugares és tu.

encosta esses cabelos encaracolados no meu peito, de onde sai o meu perfume depois de abertos os botões que o defendiam. sinto as tuas mãos pela minha face, pelo meu cabelo tão curto. o que nós fazemos é uma dança, uma dança em que, arrebatadoramente, nos chegamos até a um ponto onde somos só um, só um ser em uníssono. e depois ajoelhados, no chão, contamos ao outro pequenas narrativas que vêm do início da história. sorrimos os dois. é boa e simples, esta união.

perco-me por ti em oração. é assim que eu imagino o momento que está para além destas palavras. a casa está às escuras, só alguns cotos de velas iluminam as paredes que de tão brancas parecem sujas. o meu candeeiro és tu, clara pele que me encandeia os sonhos. e o meu corpo é tua morada porque em mim sabes como ancorar. trouxemos, por entre os braços, tinta da china, e pintamos palavras pelos corpos em uníssono. um último gemido e adormeço.

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