Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

sexta-feira, outubro 28, 2005

mudança da hora

cinquenta maneiras de dizer - um estabelecimento em rede de algumas das nossas emoções para com o próximo. entre cá e lá, o infinito de acordar e adormecer todos os dias, mais ou menos à mesma hora.

nota: relembrar que o trabalho não é a coisa mais importante da vida - vida para além das horas de expediente - não tens que estar, sequer, bom para trabalhar, será muito mais importante que estejas bom para sonhar. relembrar isto na mesa de um café, junto à estação. lá fora, chove.

deixar crescer o cabelo, uma opção de vida e de shampoo - se as pontas secam como a terra no alentejo, se o cabelo se desalinha como o vento na nossa cara - deixar crescer o cabelo pode ainda ser uma maneira de inventar palavras com consoante dupla. a mais que isto, toda a história da cozinha, milhões de mulheres todos os anos com os dedos insensíveis ao calor dos tachos. alguma vez pensaste no seu olhar?

queria também ainda deixar expresso que, entre uma sexta-feira e outro dia qualquer, existem pequenas diferenças de importância. à sexta-feira o transeunte está mais sorridente, preparado para comprar uma boa promoção na montra da loja. fora disso, é tudo uma grande monotonia. os comerciantes usam os casacos para se aquecerem no frio escuro dos balcões, poetas entram e saem pedindo moedas para um café.

seria tudo isto a história da pobreza à face da terra, poetas de dedos amarelecidos à cata de uma moeda. mas também existem poetas-revisores - luzes sobre a mesa, trazer sempre uma caneta no bolso para uma ocasião especial, rasgar páginas de livros só porque, na verdade, esse livro não tem interesse nenhum. nada é uma experiência pessoal de sentimento - um livro não é um filho - um livro é uma produção industrial de cultura [avesso às regras do capitalismo, sim] - um livro é um bem como outro qualquer - e sim, mesmo que não acredites, muitas vezes se mata a sede com um livro, mata-se muito mais a sede com um livro do que com garrafas de água do luso.

nota: poderá, algures, haver um final de história. se houver, o que eu espero, é que o possas encontrar.

1 comentário:

Elipse disse...

A minha vantagem é que eu posso sempre construir os finais. Sem essa possibilidade recusar-me-ia a LER.