Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

quinta-feira, setembro 08, 2005

jeito

este meu tempo de sair casa a cada dia, sente-se num jornal em pulgas. sabe-se, pela ordenação dos dias, que o inverno está cada vez mais perto e vão-se vendo os casacos pendurados nas varandas, prontos a respirar o vento e as chuvas frias. sabe-se, pela normal organização dos dias, que há homens e homens fechados em casa, a fingirem-se do natal. mas isso, só por si, nada significa.

este meu jeito de arrumar os óculos sempre no lugar dos óculos, de trazer o nariz sempre pronto a cheirar, de abotoar nas casas próprias os botões de camisas lavadas e engomadas, é uma profunda chatice que tenho que abraçar. Podia, no entanto, estar calmo em relação ao que me move neste mundo, fosse por tão gentil idade que carrego no bilhete de identidade, fosse por ainda encontrar quem queira ser meu amigo. mas isso, ainda assim, pouco me parece importar.

este meu modo de de dizer as coisas sem que as coisas tenham tempo para aceitar o modo como vão ser ditas, esta luxúria, tantas vezes carnal, que me abomina os olhos e os endereços, esta minha fúria, este meu esplendor, tudo o que me rodeia nestas casas construídas de raíz, onde antes era só campo e mato, e agora se faz cidade como se nunca tivesse existido outra coisa. estas raparigas que me sorriem no café, estes senhores que me tiram o chapéu, estes automóveis que respeitam o meu passo pelas passadeiras, tudo, tudo isso, como eu me canso de repetir, pouco ou nada me adianta.

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