Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

segunda-feira, agosto 29, 2005

Um Adeus - possibilidade primeira

Agora já não te vou dizer mais nada
[o verão acabou e as conversas eram só um passatempo nas mesas dos cafés.
havia que ocupar um pedaço de areia, da mesma maneira que outros homens carregam,
muito bem presas nos seus braços, meninas de cabelos arranjados]
Tudo isto, que pode ser muito doloroso de ouvir, de dizer,
é uma simples matéria do curso de educação sentimental.
Tu, não te podes queixar da minha extrema severidade,
da mesma forma que eu não me vou desiludir
com a tua insonsa fuga para um mundo mais rosa.

[ainda assim lembro, em flashback a preto e branco,
o dia em que chegaste, loura e brilhante, perto de mim,
com as tuas mãos em concha sobre o peito decotado
e um piscar de olhos satisfeito com a minha atrapalhação.
o que fica no roteiro do filme é uma frase muito pouco enigmática:
os rapazes tímidos, esses seres infinitamente cruéis com os mundos possíveis]

Lembro-me de coisas que não te vou repetir,
agora que tudo ficou decidido contra nós.
Podes muito bem ligar-me a meio da noite, dizer que me amas,
tal como podes continuar a mandar as sete cartas por semana
onde insistes em fazer com que eu saiba tudo de toda a tua vida.
No fundo, essas coisas são as banalidades que eu tenho que aceitar.

Da minha parte, seguirei fazendo a estrada
com pequenas paragens em que guardo as chaves no bolso
e dou passeios por caminhos que não conhecem pés.
Tu sofres, mas eu gosto de ser assim,
lamentavelmente independente.
E então, em vez de acabar poemas aos tropeções,
como um amigo meu que ficou um dia apaixonado por uma francesa,
bato a porta com força e deixo-te a chorar baixinho.
Adeus.

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