Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

segunda-feira, agosto 22, 2005

bica curta

não me venhas com "pareces", o tempo está cada vez mais curto, como as bicas que bebes, para deixares ao abandono o meu coração alterado. serias capaz, eu sei-o tão tão bem, de me dizer amor em minúsculas, enquanto do outro lado de um qualquer oceano as tuas mãos azuis abriam corpos de doentes terminais. não me venhas então com as meiguices, nem com os olhos bonitos, nem com o nariz empinado. outra bica curta, se faz favor, e traga-me o cinzeiro.

não me venhas com "pareces", essa palavra que não existe em nenhum dicionário mas que tu insistes em tornar plural, não só na gramática, mas sobretudo na nossa vida a dois, a nossa vida sem princípio nem fim porque, simplesmente, tu nunca quiseste ser a Senhora Eu e eu nunca perdi o meu tempo a explicar o natal às criancinhas mais do que duzentas e trinta e sete vezes. não tenho paciência, não tenho mesmo paciência. e depois hoje é sábado, e aos sábados eu gosto de ouvir música calma enquanto o sol cai sobre o mar. inspiro o fumo.

não me venhas com "pareces", não me venhas com dedos finos, não me venhas com beijos que não são sinceros. eu estou a acabar de sair de mim, ajudas assim só me puxam para o buraco. eu sei, uma vez disseste-me que ias gostar de mim o tempo todo. eu acreditei em ti e comprei um fato e uma gravata. a vida direita. o olhar direito. e depois estavas enganada, e depois acabou-se a emissão televisiva, e depois faltou a luz. ainda estou à espera do tempo que chove outra vez, mas nunca mais te vou olhar em bicos de pés e pensar que te quero beijar. as coisas são mesmo assim. deixo uma moeda sobre a mesa e saio do café calado.

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