Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

segunda-feira, junho 20, 2005

casa: dentro e fora. ou fora.

o disco a ser comido dentro da barriga da aparelhagem e eu sentado numa cadeira, ela na mesa, a falar-me de coisas que existem lá na cabeça dela e eu sentado. agora ponho-me a pensar que se um dia não sair nunca de casa, talvez deixe de ter o que pensar, mas não. a música a ser comida, no disco ou no prato, na barriga da aparelhagem. duas frases que ninguém percebe e o selo do surreal.

cesariny haveria de chorar no túmulo, se não fosse demasiado teatral. depois ele morre, vai para o céu ou para o cemitério, tantas pessoas a pensar em elsinore e ninguém para o ver no funeral. mas descanse-se, eu também me canso, eu também me esqueço, essas coisas todas que acontecem nas barrigas das aparelhagens, como nas das baleias, fazer uma lista de compras e não sair de casa.

um livro e duas frases, ele levava tudo na bicicleta ou debaixo do braço, eu a vê-lo da janela como as crianças, ou como naquele outro texto em que eu era formalista e fazia coisas em perspectiva, sem perceber que havia muito mais poesia nas coisas que não se dizem e não se fazem. ficar parado a olhar, afinal, não tinha graça nenhuma. mas se eu parar, talvez deixe de escrever. ou então o mundo todo a não perceber quando finalmente escrevo alguma coisa bem.

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