Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

quarta-feira, janeiro 26, 2005

manhã de hoje

ainda na cama, que horas são?, o corpo partido e mal colado, a cabeça a desvendar-se da sua normal ausência de peso, os lençóis que pesam e que faltam, incomodam mas não aquecem, o corpo ali, deixado quase, as mãos que procuram segurar-se a algum lado, a mesa de cabeceira, como se estivesse em queda para algum fundo, o fundo da cama não, o fundo de mim.

o corpo assim, os pensamentos, porque não se pode pensar naquilo que se vive eternamente, olhar a frase, não se pode pensar eternamente naquilo que se vive, tanto faz, querer dizer as duas coisas, as coisas todas, deixar a eternidade para o fim, não por uma questão de estilo, por saber que a eternidade é uma coisa sem fim, o corpo aqui, doente, e a consciência do dicionário.

onde é que se põem os pontos finais, as vírgulas, os sons que não têm som, marcas deixadas sobre a pele branca do papel, seguro o estilete e os dedos que fraquejam, o corpo ainda, a cama fria e pesada, como podem existir coisas frias e pesadas, perguntam-me, não digo pedra de gelo, porque este frio não queima, digo o corpo, doente, as mãos que procuram segurar-se, o eu não estar aqui, estar sempre aqui, está sempre aqui, penso, eternamente, acabo, eternamente.

1 comentário:

Miriam Luz disse...

Não te consumas dessa maneira Luís... =/
Lembras-te do "como sempre"? Assim não vai dar!
Beijinhos... muitos.
Míriam*