Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

domingo, janeiro 02, 2005

estrada das azedas

mesmo que desconheça as razões, vou ser sempre o gajo que vive a experiência do sofrimento. em qualquer dia da semana, em qualquer altura do ano. não é uma questão de frio ou de calor, não é uma questão de ter muito ou pouco trabalho. o sofrimento é algo pelo qual eu vou estar sempre a passar. mesmo que desconheça as razões, mesmo que não existam nenhumas razões na aparência das coisas e das pessoas que me rodeiam. sofrer. ponto final.

saio de casa e vou de carro, ver o mar distante. um mar que sopra por cima das pedras e molha as marcações da estrada. oiço música, acima de tudo, oiço-me a mim. eu a falar comigo mesmo, em todos os metros do caminho. vejo quem está à beira da estrada e penso em coisas, pessoas, sítios por onde, passei. não voltarei a dizer que nada fica. lembro-me dos pormenores mais insignificantes de cada momento. um cubo de gelo com coração de manteiga, duas meninas a comer azedas. sim, eu serei aquele que tem sempre dúvidas. não tenho a certeza que seja mau, tenho dúvidas que seja bom.

e por isso, hoje, imaginei frases escritas nas paredes e nos muros das casas. havia tintas de várias cores, pessoas que tinham para dizer coisas diferentes. imaginei frases nas paredes e quase que as via, quando passava, enquanto elas eram escritas nas estranhas correntes da minha alma. vivo assim uma religiosidade diferente, solitária e sonhadora. da próxima vez que me vires talvez eu esteja encostado a uma parede velha, de telefone na mão, pronto a dizer-te que te quero. e talvez tu não vás ouvir.

1 comentário:

Miriam Luz disse...

"Sofrer. Ponto final."

Luís... as reticências não estão deste lado.
Nem sei bem o que te dizer. Não digo nada.
"Tua"
Miriam