Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

terça-feira, julho 13, 2004

horário de autocarro

tenho os punhos duridos, os punhos duridos de andar aos murros pelas paredes, os punhos duridos de ter agulhas espetadas, facas a passear ao lado das veias, dentadas de cão apanhadas na rua, tenho os punhos duridos, estendo-os em frente dos meus olhos e penso, tenho os punhos duridos e duas horas para fazer alguma coisa contigo, duas horas, depois o autocarro, duas horas, depois o meu marido, tenho os punhos duridos, tiro o relógio do pulso.

chegaste, como sempre, a correr, entraste pela casa dentro, desapertaste os botões do teu vestido, lançaste a mala para cima do sofá, disseste, hoje depressa, lançaste a mala e abriste mais uns botões do teu vestido, quero-te, disseste, mas o autocarro, estou louca por ti, mas o meu marido, o jantar, os putos, ele hoje está em casa, quero-te, os botões desapertados, a mala caída, anda para os meus braços, dizias, meu querido, depressa hoje, quero-te, tiras-me a camisa, tiras-me as calças, depressa hoje, o autocarro, a correr, como sempre, depressa hoje, e mordeste-me o peito.

agarrei o teu cabelo com força e caíste de joelhos aos meus pés, cabrão, gritaste, caíste de joelhos aos meus pés e enfiei-te o meu pénis na tua boca, cabrão, obriguei-te a levares com ele até quase sufocares, até ficares com os olhos suplicantes muito abertos, até ficares com a face muito vermelha e depois muito branca, rasguei-te as roupas, atirei-te pelo chão, e comecei a enfiar os meus dedos pela tua vagina, a enfiar os meus dedos, sem te esfregar, a enfiar os meus dedos, cabrão, choraste, os dedos, os punhos, os punhos, os punhos, os punhos, choraste, ficaste caída pelo chão enquanto eu, dançando na imaginação perdida, brincava com facas e agulhas, os meus pulsos, choraste, e eu, duas horas, para ti, o autocarro, o marido, tenho os pulsos duridos.

2 comentários:

mariana mata passos disse...

quase deixar cair um ovo é um susto. o mesmo se passa se for um copo.

maria santos disse...

odiar-te-ia até ao fim dos meus dias...apenas isso...por não saberes amar...