Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

domingo, julho 25, 2004

areia

a questão é: eu deitado ao sol, a cabeça na areia. tu, sentada ao meu lado, pés quietos, muito juntos. os nossos olhares: distantes. a ver o mar. a-ver-o-mar. a situação é esta: sábado. sábado de tarde. a praia, cheia. as pessoas, aos gritos. lá longe, o mar. no mar, uns barcos, a maré baixa. o nadador-salvador, queito. eu deitado ao sol. a cabeça. a areia. a questão é esta.

há um falso pressuposto nesta situação. aqui ninguém gosta de ninguém. eu deitado, tu sentada. pouco importa, diria alguém, é só uma questão de se trocarem os verbos. ensaio então, eu sentado, tu deitada. a praia cheia de gente. os olhares: distantes. os nossos. porque nos investimos daquela sensação de ser o centro das atenções. ponto um: não pensar que se é o centro das atenções. toco-te ao de leve nas costas. um beijo.

a questão é: não pensar. deixar que o sol nos queime as pernas, por debaixo dos calções. vestes um bikini muito pequeno. eu sorrio. beijo. onde existiam palavras agora existem lábios. como se uma coisa não tivesse nada com a outra. ponto um: (eu repito) não pensar que se é o centro das atenções. ainda assim, procurar abrigo.  não do sol. é verão e quatro paredes juntas fazem desaparecer bikinis. não. procurar abrigo, praias vazias.

porque depois é só. lábios, lábios, lábios. mãos junto de bikini, mãos junto de calções. e, enfim, não diria que é do calor dos corpos. talvez a areia a apegar-se demasiado ao meu peito cheio de pelos. talvez me seja difícil lavar os pés mais logo, quando voltar ao meu chuveiro. a prestação do carro. um poema de herberto helder. um livro qualquer. o jantar em casa da irmã. sim, há muito em que pensar. e a questão é: as palavras.

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