Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

quinta-feira, junho 17, 2004

sorriso à malandro

deixa-me de lado quando fores de viagem, deixa-me de lado, não quero ir. não é a tua companhia, não é, mas eu gosto de estar quieto no meu canto, no meu lado das coisas. gosto. ou talvez não goste. mas estou muito habituado a isto, sabes? e acabar com as habituações é mais difícil do que parece.

deixa-me de lado quando saíres de casa, quero passar por essa experiência de abandono, quero não ter ninguém em casa, quero fazer as camas, arrumar as coisas, sair sozinho para o café, voltar sozinho para dormir, quero não ouvir ninguém sem ser pelo telefone, ver só o que se pode ver nas fotografias. quero. ou mesmo que não queira, deixa-me pensar assim.

e depois, quando já fôr demasiado tarde, quando não restar mais nada para sonhar, quando não nos olharem mais como quem olha para quem vai fazer alguma coisa, ai que bom que vai ser, a inutilidade, o sossego, o nada. [mesmo que agora eu veja em repetição a imagem do outro gajo a dizer-me o que é o nada, o que é o nada]. e depois, bem, depois eu vou abrir as portas, deixar entrar o sol, procurar um cigarro na mala das recordações, pôr uma música bem calminha, esticar as pernas. e vou-te dizer, baixinho, no more máquinas de costura.

1 comentário:

Miriam Luz disse...

Continuo a acompanhar-te luis... nao tanto quanto queria (ou devia, ou podia) mas continuo.
Ainda hoje gosto de recordar frases soltas que escreveste por aí... nalgum post perdido entre tantos e tantos.
(Estou atenta... e nestas andanças também)