Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

terça-feira, janeiro 13, 2004

usos indiscriminados de violência (ou a paranóia do gangster)

eu a tentar ouvir a música e o cabrão o tempo todo nas minhas costas a falar italiano. uma gaja a esganiçar-se ali à frente, com a letrinha toda estudada e à conta para caber dentro da música mal amanhada e o cabrão a dizer que em nápoles isto, em nápoles aquilo. comecei por bater o pé mas o mânfio nada. agitei o rabo na cadeira mas o gajo até parece que cada vez falava mais alto. a rapariga lá à frente a olhar desesperada enquanto parecia contar os minutos para a merda da canção acabar. o gajo a falar dos taxistas italianos e do diabo a sete. tirei a pistola do coldre e espetei-lhe um balázio no meio da testa.

não faz muito o meu género ir tomar café perto de escolas, mas o serviço, às vezes, obriga-me a estas cenas. a meio da manhã, exactamente naquela hora em que o pequeno almoço já lá vai e o almoço ainda não vem. um pastel de nata e um copo de leite, para acalmar as ideias estomacais. um puto a olhar para a televisão e a mandar bocas para as miúdas que passavam do lado de fora da montra. eu tentei saborear o pastel, que até era do dia e tudo, isto de se encontrar pastelarias frescas já não é assim tão recorrente. o puto com merdas, isto, aquilo. eu a beber o leite aos golinhos pequenos, para não queimar a língua. o puto a escarnecer-se todo. pum!

passear, à noite, por um jardim escuro não é, com certeza, o melhor desporto para alguém com os nervos em franja. mas depois de jantar bem em casa dos papás, apeteceu-me essa volta. pensei, porra, há que tempos que não andas um pedacinho a pé, é sempre carro para todo o lado. ando eu sossegado nesta volta escura, e apetece-me um cigarro. um banco no meio de jardim, atrás, uns arbustos. de lá de trás, risinhos abafados de namorados sem sítio melhor para onde ir. eu a fumar o cigarro, a tentar fumá-lo sossegado, e um não me toques aí, ai ai ai, abraça-me porra, estas merdas cochichadas atrás da orelha. um gajo a querer ter um fim de dia calmo, a tentar fumar um cigarro num sítio calmo, e logo alguém que não sabe que na rua há que ter os olhos abertos. dou duas passas mais no cigarro e os gemidinho continua. mão no coldre, outra vez.

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