Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

sábado, novembro 08, 2003

o que eu acho

Quando me olhas assim sinto-me nu. E estar nu deixa-me profundamente desconfortável, ainda para mais à frente de alguém como tu. Confesso, contigo nunca tive nenhuma espécie de desejo sexual. Nunca pensei que podia sequer beijar-te. Não. Isso intimida-me muito mais do que aquilo que tu possas pensar. Portanto, contigo nunca pensei em nada. Estás demasiado próxima para que me permita a isso. Só tenho desejos sexuais quando tenho a certeza que eles não se vão realizar. Só penso em fazer amor com alguém que não conheço de lado de nenhum. E a ti conheço-te. Portanto não serves.

O problema contigo é esse teu olhar. Eu sei que tu também não queres nada comigo. Fazes isso só para me foderes o juízo. Eu encolho-me todo por dentro e ponho-me a andar pela rua ao meio da noite. Saio e está a chover. Gosto de andar de chapéu de chuva. Por um lado é útil, já se vê. E quando não chove marco o ritmo dos meus passos na calçada, com a biqueira de aço do chapéu. Acho que há pessoas que se assustam com isso. Mas não me importo, sabe-me bem. O problema contigo é eu ficar sem saber bem o que te dizer e acabar sempre por falar de outra coisa qualquer. Acho que isso te irrita.

Quando me convidas para irmos beber umas cervejas treme-me sempre o olho esquerdo. É o olho que me avisa dos perigos iminentes. Visto um casaco e vou ter contigo. Chegas sempre primeiro, tens sempre a chávena do café já vazia e fumas um cigarro nessa tua forma de não saberes fumar e a olhar para os gajos que entram pela porta do café. Eu sento-me ao teu lado e finjo que te falo de alguma coisa. A verdade é que dentro de mim sempre se exalta aquele gajo que não sabe sequer como pôr as mãos em cima do balcão. Aquele gajo que não sabe se deve beber o café segurando a chávena com a mão direita ou a esquerda. Eu acho que isso tu nem percebes. Ou então finges que não percebes e falas-me na mesma de tudo aquilo que te chateia ou que te leva às nuvens. És demasiado gente para mim, minha cara. E esse teu olhar. Eu acho que é um problema, mas o que é que eu sei disso, não é?

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