Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

domingo, outubro 26, 2003

folha em branco

Não tenho o que escrever. Escondo-me dentro de mãos que permanecem vazias. Bebo das goteiras. Estou sujo. Sujo por dentro e por fora do que considero como meu, como eu. Os meus passos tornam-se incertos, de tão inseguros. O meu olhar esconde-se das ruas. Está sombrio o meu quarto. Perante a folha branca, papel imaculado, repousa uma caneta sem marcas digitais. Não tenho o que escrever, é só nisso que penso.

Insisto em não atender quem me telefona. Tenho medo do que me possam dizer, receio que me tentem animar. Pressinto que persigo algo que não está lá fora mas aqui, dentro de mim. Procuro uma palavra que trago guardada há imenso tempo. Como fazer emergir essa palavra, entre tantos silêncios escondida? Insisto em não atender quem me telefona, temo o lado de lá.

Não arrisco abrir as cortinas, nem a despir o casaco se saio à rua. Não arrisco um olá, nem um acenar de cabeça na espera do elevador. Para quê debitar palavras ao balcão do café, em frente do expositor das frutas no hipermercado? Eu procuro uma palavra que não há. E acabo arrancando os cabelos, não tendo o que escrever.



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