Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

quinta-feira, agosto 28, 2003

a mancha no lençol

estava eu a passear nu pelo corredor da casa quando ouvi a chaves a tilintar mesmo encostadas à porta da rua. o meu primeiro pensamento foi de incredulidade. não podias estar a chegar a casa aquela hora, não podia mesmo ser. ainda por cima encontrares-me naquela figura, o corpo horrivelmente exposto, os cabelos pastosos acabados de sair da cama, o hálito de ressaca. quando a porta se abriu, percebi que o estado das coisas era muito, mas mesmo muito, pior. a tua mãe entrou em casa e, quase em simultâneo, soltou um "ih" de surpresa. "o que é que estás a fazer aqui? assim?"
não me foi difícil explicar à tua mãe que me tinhas dado abrigo depois de uma noite de copos no bar da praia. que era muito perigoso pegar no carro aquela hora, as brigadas de trânsito, os olhos a quererem-se fechar, enfim, essas coisas todas.ela compreendeu perfeitamente. depois, como se estivesse a olhar para o lado, perguntou-me se eu tinha dormido contigo. eu apressei-me a dizer que não, claro que não, Dona São, nós somos só amigos, isso nunca iria acontecer. ela sorriu. percebi através daquele sorriso que continuava totalmente nu perante o olhar da tua mãe. corei. não é a primeira vez que eu vejo um homem nu, disse ela. pois a mim, é a primeira vez que me vejo nu à frente da mãe de alguém. ela sorriu e abraçou-me. não é nada de especial, disse ela, enquanto me mordia a orelha.
é claro que me excitei com a situação. afinal a tua mãe é uma mulher linda e muito charmosa. para além disso, sabe bem como pôr um gajo à vontade. deixei-me levar, foi só isso. já há uns meses que não tinha nada com ninguém e não devemos negar aquilo que nos cai do céu. foi só por isso. e podes estar descansada que o sexo foi bom mas não há nenhuma perspectiva de eu vir a ser o teu padrasto. nenhuma mesmo.
custa-me agora é estar aqui contigo, outra vez no bar da praia, a tentar agir como se nada tivesse acontecido. é quase impossível não estar a pensar que fui para a cama com a tua mãe, mesmo que não te diga nada disso. bebo uma frize tangerina e tu gozas comigo. ris-te da minha ressaca e do meu olhar de pânico ensonado perante a tua vodka. se tu soubesses. o que me salva é que depois de amanhã voltas para Bilbau, vamos voltar a estar três meses a falar só pelo mail e quando tu voltares já ninguém se vai lembrar desse "incidente". vai ser melhor assim, não te contando. aceitas muito melhor a ideia de eu ter batido uma punheta para cima do teu lençol.

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