Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

quarta-feira, agosto 27, 2003

hein?

Steve McQueen saiu de cima da mota e colocou, com um vagar digno de um slow-motion desportivo (daqueles onde se descobre que foi penalty...mesmo), os pés na estrada empoeirada daquela terra que não lembrava ao diabo. a sua face de guerreiro do asfalto estava protegida por um lenço de motivos vermelhos que se apressou a baixar para o pescoço. isso originou uma fronteira bem por cima do nariz de Steve: acima dela os óculos empoeirados, abaixo dela, bem, também não se pode dizer que uma cara com uma barba de dez dias seja limpa.
o poeta estava sentado debaixo do telheiro do saloon.mas não, não era um saloon qualquer. naquela cidade, há muito que deixara de haver cowboys.o poeta, ao ver aquela figura, toda vestida de um cabedal empoeirado, não se interessou e voltou os olhos para o livro. dentro do saloon só havia mulheres, cada uma delas a tecer uma camisa (anota-se aqui a referência à Odisseia, lida durante a faculdade, com a preciosa ajuda de um livro de apoio, graciosamente oferecido pelos papás, depois de uma visita a França).Steve chegou-se ao balcão e pediu um copo de água gaseificada. O barman sorriu, muito. Estava completamente farto de receber idiotinhas a pedir copos de salsaparilhano gozo. serviu o copo a Steve e indicou-lhe uma porta no andar de cima.Steve aquiesceu.ignorante.
dentro do quarto uma cama vazia, e junto à janela, Ursula Andrews vestida de acordo com as tradições da idade da conquista do velho oeste. Steve puxou uma cadeira, sentou-se e Ursula declamou-lhe vários textos de diferentes filmes que protagonizou.a experiência agradou-lhe. quando Ursula saiu do quarto, Steve espreitou à janela e percebeu que do outro lado da rua era a gare de austerlitz.
entretanto, no andar de baixo, as mulheres tinham largado as camisas (fim da citação homérica) e iniciado um chá dançante. a um canto do bar faziam-se inscrições para um torneio de crocket.o barman fervia um pote de água enquanto o seu ajudante (aparecido não se percebe muito bem de onde) cortava cascas de limão.Steve desceu as escadas e saiu à rua. o poeta estava agora mergulhado no livro até à cintura. voltando ao slow-motion da entrada, Steve caminhou até à mota, subiu acima dela e arrancou, pela pradaria, qual Lucky Luke.

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